em Ferroviários

Eu chefiava a turma de telégrafos

Antonio Tibúrcio de Oliveira, ferroviário de Três Corações (MG). Foto: Paulo Morais

Meu nome completo é Antônio Tibúrcio de Oliveira, eu nasci em 14 de abril de 1934, em Conceição da Barra de Minas. Eu vim para o sul de Minas, com 8 anos de idade, meu pai foi transferido para Gaspar Lopes, próximo de Alfenas, e moramos lá cerca de 9 meses, depois viemos para Trẽs Corações, e terminamos a nossa carreira de ferroviário aqui. Meu pai era ferroviário também. Ele era mestre de linha, supervisionava a manutenção da via permanente, via permanente é a linha férrea. O nome dele é José Francisco de Oliveira. Ele trabalhou sempre aqui, os 4 filhos também dele, eu e meus 3 irmãos fomos ferroviários. O meu avô também foi ferroviário, ele ajudou construir a ferrovia na época. Era tudo em carroça, foi cavando o barranco, tudo a mão, o leito da ferrovia, ele contava que tirava a terra tudo na carroça, trabalho a mão, trabalho penoso. O nome do meu avô é Felipe de Oliveira. A família é praticamente toda de ferroviário.

Trabalhei 34 anos na ferrovia. Trabalhei como telegrafista, depois passei a supervisionar o serviço de telegrafia, do telégrafo sem fios e telefone. Eu chefiava a turma de telégrafos e telefones, as chamadas linhas físicas de comunicações da rede, que tinha na época.

Na época que eu vim para cá, existia uma certa animosidade entre o pessoal do ferroviário e a população de um modo geral O ferroviário era uma classe mais ou menos considerada classe inferior, classe baixa, embora fosse através da ferrovia que o progresso da cidade veio, o próprio D.Pedro fez o trecho inaugural de Cruzeiro a Três Corações. A cidade era um pólo agropecuário, fazia comércio de gado, por isto a necessidade da implantação da ferrovia. Em 1854 foi inaugurado a ferrovia aqui, D.Pedro fez a viagem inaugural, de Passa Quatro até Trẽs Corações.

Na área dos esportes, sempre houve destaque para os ferroviários, na minha época aqui tinha 4 times só de ferroviários. A gente conseguia 4 até 5 times, separando escritório, via permanente, estação, tráfico e outros diversos, chegava a fazer campeonato, tinha muita gente.

No início dos anos 80, houve assim uma debandada de ferroviários aposentando, o governo passou a oferecer 6 meses de salário extra para quem aposentasse. Então, nós em 88, fundamos esta associação, pois a gente estava sem informações e para gente manter o pessoal informado, tratar dos direitos, fazer os pedidos, encaminhar papéis, na época tinha um problema com as cia de seguro de vida, tinha que tratar,. Estou até hoje como presidente porque ninguém mais quis assumir, e estamos até o dia que der, a vontade é fechar também, tá batendo o desânimo. Muitos faleceram, a gente tem até a lista aqui, a chamada lista negra dos aposentados que vão falecendo, tem 284 anotados falecidos. Nós tínhamos de 400 a 500 participantes, e a gente incluia o pessoal de Varginha, de Soledade, Passa Quatro, Baependi, Conceição do Rio Verde, fazia parte aqui também.

O que eu deixaria de mensagem final é que a gente tem que lamentar esta situação de desprezo pela ferrovia no país, trechos erradicados, muitos desnecessariamente, o governo preferiu erradicar os trechos ao invés de melhorar, deixou acabar. Como ferroviário desejaria que houvesse alguém entre os governantes que pudesse voltar o olhar e o sentido para a ferrovia, porque o país é de dimensões continentais e o meio de transporte mais adequado é a ferrovia, não só para transporte de cargas pesadas, aliviando as rodovias, diminuindo os acidentes.

Eu me aposentei em 1983, em 1º de novembro de 1983.

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