em Ferroviários

Eu tenho muito contato com a estrada de ferro desde criança

Antônio Gomes Pimentel, ferroviário de Três Corações. Foto: Paulo Morais.

Meu nome é Antônio Gomes Pimentel, nasci em Ibiá no ano de 1926, no dia 15 de março. Já completei 85 anos. Meu pai era ferroviário, o nome dele é Raimundo Pimentel. Meu pai trabalhava na Estrada de Ferro Oeste de Minas, naquela época eles não tinham dia de folga, só domingo depois das 14 horas é que eles tinham folga. Meu pai trabalhava na manutenção abastecendo locomotivas, lenha, areia, tudo Todo domingo eu ia levar almoço para ele e ficava até a hora dele ir embora. Eu era apaixonado pelas locomotivas, sonhava que um dia eu seria maquinista das máquinas a vapor. As locomotivas chegavam e iam para o depósito para revisão e depois ia para abastecer e eu ficava acompanhando ele naquele movimento que ele fazia. Então eu tenho muito contato com a estrada de ferro desde criança.

Quando eu completei 20 anos eu entrei para a rede, foi em 1947. Eles iam começar uma eletrificação entre Divinópolis e Belo Horizonte. As linhas telegráficas, na época em que foram construídas, elas não acompanhavam o traçado só da linha, era feito de acordo com as condições de terreno, elas mudavam muito de lado. Quando foi para eletrificar nós fomos lá para passar as linhas para um lado só, sentido Belo Horizonte-Divinópolis lado direito. Na época também iniciou uma construção do seletivo, um telefonezinho para facilitar as comunicações, antes era só feito no morse.

Eu morei dentro de um vagão até fins de 51. Os alojamentos eram os vagões, tinha carro de cozinha, não é igual este de hoje, era metade de madeira, tinha um alojamento para dormir. Era o alojamento que nós tínhamos, nós éramos 22. Quando terminamos as construção de Divinópolis e chegamos com o seletivo em Garças de Minas, era 1950. Foi quando o Brasil perdeu aquela Copa para o Uruguai lá no Maracanã, nós estávamos em Garça de Minas.

Para manter as comunicações do morse e de telefone, cada guarda-fios tomava conta de 100 quilômetros. Para o aparelho de morse funcionar, era feita uma bateria de sulfato, com 25 gramas de sulfato e aproximadamente 2 litros de água a gente fazia uma bateria de 1 volt e meio, o aparelho recebia e registrava o código morse, então, para funcionar, tinha que ter esta bateria. Agora para a linha de transmissão, as linhas físicas, de 40 em 40 km tinha que ter uma bateria com 24 elementos, só que 12 elementos antes do aparelho e 12 elementos após. Isto conseguia transmitir a comunicação numa média de 40 km, aí tinha que ter outra bateria pra lá para reforçar. O guarda fios ele trabalhava na manutenção disto tudo.

O guarda-fios tinha muito inimigo, passarinho por exemplo, o João de Barro fazia um ninhozinho lá na linha, o poste era de ferro, a cruzeta era de ferro, ele fazia um ninho dele e aterrava a linha, também tinha o mal tempo, caia faísca, quebravam os isoladores, então tinha me manter tudo funcionando, esta que era a função de um guarda fios. Cada um era uma média de 100 quilômetros.
É muito triste ver as estações deste jeito, eu fico muito triste, porque se a senhora visse quando tinha aquele movimento, principalmente na época da locomotiva a vapor, quando dava onze horas saia a turma para almoçar, o povo do escritório, da estação, nossa, a gente chegava a trombar um no outro, de tanta gente, era aquele movimento, era aquela alegria, depois que acabou.

A locomotiva a vapor para locomover tinha aquele barulho característico dela, a locomotiva a diesel é um barulho assim como se fosse uma carreta, um caminhão, agora a vaporosa não, era um vac-vac-vac-vac, chiui-chiui, soltava fumaça loonga. Era bonito mesmo. Eu senti muito saudade da locomotiva a vapor, tenho saudade mesmo.

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