em Ferroviários

Já era apaixonado pela ferrovia

Maurício Couto, ferroviário de Três Corações (MG). In memorian. Foto: Paulo Morais

Meu nome completo é Maurício Couto, eu nasci dia 23 de janeiro de 1928. O meu pai era ferroviário, a gente morava próximo a rodoviária, na beira do rio. Tinha uma casinha na beira do rio, nós morava lá. O nome do meu pai é Homero Couto. Ele entrou na rede já mocinho e trabalhando lá, ele foi crescendo, crescendo, foi à auxiliar de maquinista, trabalhou maquinista, depois ele alcançou o cargo máximo, que era de fiscal. Logo depois ele faleceu, isto foi em 1975.

Eu era sim, já era apaixonado pela ferrovia. Tinha paixão mesmo pela ferrovia. Como desde criança eu já gostava desenhar, eu pus na minha cabeça que eu era desenhista. Eu fiz um desenho do meu pai num trem e puseram este desenho numa barbearia aqui na Cotia, e ficou este desenho lá de demostração para todo mundo ver.

Aí o chefe que aqui na rede, seu Abraão Loureiro Pinto, me chamou e perguntou se eu queria trabalhar na rede. Eu falei:- perfeitamente, uai. Mas quantos anos você tem? Eu não tinha 16 anos, tinha 15 anos e meio, sabe? Eu falei que era 16. Entrei como trabalhador classificado com I, trabalhador I. Eu trabalhava na estação cortando barranco, botando nas pranchas e enchendo de terra para construir um galpão, que ficava ao lado da estação, isto foi em 1943. Era trabalhador braçal.

Depois fui trabalhar em mecânica, lá tinha que engraxar a locomotiva, reparar as locomotivas, dar serragem de bronze, era para lubrificar as locomotivas para funcionar. A oficina mecânica era no depósito da rede, naquele galpão que tá caindo lá, entendeu? Lá tinha carpintaria, tinha fundição de bronze, tinha os tornos, as plainas, o esmeril, ferraria para arrumar as peças da locomotiva, tinha um escritório, tinha um almoxarifado, tinha a parte de eletricidade, era tudo lá. Depois passei para a pintura. Eu pintava as locomotivas, vagões, carro de passageiro. Os carros das locomotivas eram todos padronizados, as braçagens eram vermelhas e o resto todo preto, as letra eram brancas. Os vagões de passageiro, eram vermelhos também, era óxido de ferro. Os vagões, os carros de passageiros eram vermelhos. Da parte da pintura me levaram para o escritório, fazia anotação de lenha, carvão, estopa, querosene, o que consumia, então era tudo anotado.

Aí me requisitaram para Belo Horizonte, aí era diferente. Passei a ser instrutor de fiscal de tração, eu apurava os processos, porque dava muito acidente. Também dava treinamento para os maquinistas, as vezes davam 5 rapazes para eu dar instrução para eles. Eu fiquei direto 15 anos na fiscalização, foi muita honra para mim, quando eu entrei na rede eram 24 fiscais, quando eu sai, só tinha 12 ou 14 fiscais. Para apurar os processos, tinha um carro da rede para andar nos próprios trilhos. Este carro tinha um escritório com cadeira de palhinha, tinha os quartinhos, tinha um fogão, era uma casinha móvel, conforme o caso eu colocava este carro nos trens. Depois que eu aposentei, este carro foi lá para Cruzeiro aí tiraram os trilhos de lá e acabaram com este trem. Faltando 3 anos pra aposentar eu fiquei como chefe do depósito de Três Corações. Eu era o primeiro que chegava lá e o último que saia. Eu aposentei em primeiro de abril de 1983.

Hoje, os colegas, a gente sempre encontra, conversa com eles. Mas que eu tenho muita saudade eu tenho, sim. Ontem mesmo eu sonhei com uma locomotiva.

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