História oral: nossa paixão

Vicente Lima (in memorian), de São Bento Abade (MG), recebendo a visita do Museu da Oralidade. Foto: Paulo Morais

O Museu da Oralidade é uma iniciativa de pesquisa, preservação e documentação da memória oral do interior de Minas Gerais, com sede em Três Corações, sul do Estado, tendo como instituição mantenedora a Viraminas Associação Cultural, entidade sem fins lucrativas fundada por empreendedores culturais em 2007. 

O Museu foi criado de forma intuitiva por pesquisadores entusiastas da cultura popular a partir de pesquisas iniciadas em fevereiro de 2007 no Sul de Minas Gerais. O projeto tem caráter comunitário, com acervo formado por histórias de vida coletadas em entrevistas de campo durante os últimos doze anos. Além disto, promove atividades formativas regulares, tais como oficinas para público jovem e adulto, com foco em história oral, elaboração e gestão de projetos culturais, audiovisual, música, dança e cultura digital. O projeto foi mantido pelo programa Cultura Viva, participando ativamente das redes estadual, nacional e latinoamericana dos Pontos de Cultura.

Atualmente, a manutenção da iniciativa é feita, na maior parte, com recursos de convênios e prêmios do ṕoder público, que garantiram a compra de equipamentos como computadores, ilha de edição, máquina fotográfica e gravador de áudio. Algumas parcerias com o empresariado local permitem a realização de projetos de pesquisa pontuais, por meio de isenções fiscais via leis municipais de incentivo à cultura ou patrocínio direto.

A proposta de registro de história oral foi inspirada a partir do conhecimento, por parte dos fundadores da inciativa, de algumas publicações de cunho semelhante. O projeto Memórias Iluminadas, ponto de partida da empreitada, teve como principal referência a publicação Vidas Vividas em Paracatu, uma coletânea de narrativas orais feita de autoria do historiador Marcos Spagnuolo Souza na cidade do Noroeste de Minas Gerais em 2001. O projeto de Luminárias, em 2007, foi conduzido ainda sem suporte digital, com o uso de um gravador de áudio analógico. Nas pesquisas posteriores, foram usados gravadores digitais simples ou telefones celulares como suporte de registro. Somente após o convênio do ponto de cultura foi possível adquirir equipamentos mais robustos, conferindo maior qualidade aos registros. Assim, foram gravadas histórias de ferroviários, professoras, trabalhadores de ofícios tradicionais, versistas, cantadores, artesãos, tanto em comunidades urbanas quanto rurais, envolvendo também bairros e grupos em situação de vulnerabilidade social.

Embora tenha se moldado, inicialmente, de forma intuitiva, a metodologia de pesquisa aplicada nos projetos seguem alguns preceitos consolidados pela experiência empírica, bem como de estudiosos da história oral como Paul Thompson, Michael Pollak e Ecleia Bosi. Os trabalhos de campo se norteiam a partir de algum tema gerador, seja a memória de uma comunidade local, de algum ofício, de alguma manifestação cultural tradicionais ou temáticas congêneres. Não são gravadas entrevistas em locais neutros, como estúdios ou cabines. As gravações acontecem na rua ou na casa do depoente para criar melhores possibilidades de ativação da memória. Para definição dos nomes de entrevistados dos projetos, parte-se de uma listagem prévia nascida a partir de sugestões de conhecidos ou lideranças da comunidade. O próprio andamento da pesquisa de campo leva a outros contatos, acontecendo o que se convencionou chamar de “efeito bola de neve”.

O Museu conta com a revista Ora!, que traz reportagens inéditas, produzidas pela equipe do museu, com memórias de pessoas e lugares de Três Corações, sobretudo de bairros e comunidades periféricas, sempre com textos leves e acessíveis ao grande público. A publicação, que busca novo financiamento para voltar a circular, tenta mostrar as comunidades locais como lugares de criação, sabedoria e arte popular, revelando o cotidiano como terreno fértil para as potencialidades humanas. A tiragem é de 1 mil exemplares e distribuição, gratuita. 

Desta forma, foram se acumulando entrevistas para projetos que resultaram, nos últimos anos, em produtos como livros documentais, livros de ficção, video documentários, exposições itinerantes e blogs. Boa parte do material pesquisado está disponível neste site (em reconstrução). Aqui você também conhece a equipe e pode entrar em contato para trocar ideias e sugerir novos rumos a este projeto. Boa visita!