em Ferroviários

Nós todos nascemos e crescemos na beirada da rede

Terezinha Ferreira, ferroviária de Três Corações. Foto: Andressa Gonçalves

Meu cunhado era ferroviário, meu irmão de criação era ferroviário, nós todos nascemos e crescemos na beirada da rede. Meu nome é Terezinha Ferreira Moisés. Depois de certa idade a gente não se importa mais de falar: eu nasci em 10 de abril de 1931. Eu nasci e fui criada nesta rua, era muito gostoso, era muito tranquilo, a cidade era tranquila demais.

Teve um concurso aí, mil e tantas pessoas, e pasaram vinte e poucos. Nós todas fomos encaixadas na hora, eu trabalhei 30 anos e seis meses. Onde é a Clínica do SUS era tudo da rede. Ali onde era a loja de móveis, subindo a rua, também era da rede. Eu comecei a trabalhar no escritório ali, o patrimônio da rede era enorme.

Eu era escriturária. Nós éramos muitas, só mulheres tinha 45 lá na rede e tinha os homens que era mais ainda. O escritório era enorme, era imenso, o salão que a gente trabalhava era maior que um salão de baile.

Eu trabalhava na seção de transporte e o meu marido na via permanente, e lá nós conhecemos, namoramos e casamos. A gente se conheceu na hora dos intervalos, porque a gente trabalhava das 8 às 11 e ia almoçar, depois voltava, e ali pelas 3 horas tinha um café. Era uma delícia. A gente conversava tudo, e foi ali, mas não foi só eu que casei com colega, não, eram mais uns quatro casais que também eram de ferroviário.

A oficina era dos homens. As mulheres só trabalhavam no escritório e os homens tinham o depósito da rede. Tinha também a estação, que controlava o tráfego. Aqui tinha mais de 200 ferroviários, contando tudo, escritório, residência, depósito. Tinha muito ferroviário que fazia casa dentro do terreno da rede, depois quando começou a terminar a rede, entrou lá os militares começaram acabar com o serviço, eles começaram a passar as casas pro nome dos ferroviários que ocupavam.

A gente cuidava da vida dos outros, como diziam nossos colegas de fora, eram as fofoqueiras. Cuidava da vida deles, do comportamento, de família. Se precisava de encaminhar para médico fora daqui, alguma coisa que precisasse, era nós que resolvíamos. A folha de pagamento era feita por nós e mandada para Belo Horizonte, lá eles efetuavam o pagamento. Vinha num carro, era um carro pagador, mas era uma beleza! Era igual um vagão de passageiro, só que gradeado. Nunca roubaram, naquele tempo era muito diferente que hoje.

Ali do lado tinha a cooperativa dos ferroviários. A gente vendia e comprava de tudo lá, desde mantimento até roupa, e era tudo pela metade do preço que a gente pagava na cidade. Descontava no fim do mês no ordenado.

Nossa, eu ia para tudo quanto era lugar, eu ia para BH de trem, era mais de 24 horas de viagem, porque ela passava por Lavras, depois ia até Divinópolis, para depois ir chegar a BH. Ia pro Rio de trem, ia até Cruzeiro, lá a gente ganhava Central do Brasil e ia ao Rio, depois a gente viajava de graça. Em qualquer ferrovia a gente ia de graça, Tenho muito saudade,mas muita, até que agora já tá diminuindo. Nossa quando eu aposentei parecia que tava me faltando um dedo.

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